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  • Daniel Arcades

HOJE É DIA DE KANZUÁ na QUARENTENA TEM TEATRO



Era 2014. Tinha acabado de escrever Exu e de repente o universo dos caboclos também pedia um peça através do Aldeia Coletivo Cênico. Olhei para a equipe, olhei para a história da equipe, cacei fotos do elenco, olhei para a família do elenco... e escrevi, pensando em imagem, perto do mato. Na época, eu, Luizinho, Mari e Onisaje morávamos nas imediações da Vasco da Gama. E foi pensando na nossa casa atual que comecei a escrever para a casa ancestre. Visite a página do NA QUARENTENA TEM TEATRO e assista Kanzuá.


"Não posso mentir. E eu não vou mentir. Aqui está uma história que ainda não sei contar. A minha casa hoje fica no segundo andar de um prédio, sem contato com o chão, muito menos com a terra. Descendo as escadas de concreto dou de cara com um asfalto apontando a subida da serra verde... Não, me engano. São casas pequenas meio verde-musgo-cinza que apontam para o céu entupido de nuvens e antenas da Sky no reboco. Passo todo dia com uma moto que lança mais uma fumaça ao céu no meio de dois vales. Esse meio tem o nome de um branco que viajou para roubar os temperos das índias e pararam aqui. Provavelmente por essa parada, os ônibus correm o tempo todo, os carros buzinam, todos passam e não se veem. Todos quem? São pessoas, brasileiras, como eu. São indivíduos nomeados que não se reconhecem na falta de luz, no frio, nas vestes pesadas, no pudor, mas estão neles. Provavelmente por isso eu não sei contar outra parte da história, não posso enxergar o que há por baixo deste asfalto, o que cobre o meu céu, que cor estas casas escondem e não posso andar nu pelo meio de dois vales. Não dá para mentir, a minha casa de hoje é cinza e as cores tropicais não passam na frente dos meus olhos todos os dias. Eu não vou negar o cinza, mas quero abrir a cauda do pavão, enxergar o céu lunático do sertão, perceber que esses meus olhos, meus cabelos, meus desejos não vieram só do branco que dá nome ao meio dos vales onde passo. São outras ruas, outros chãos, outros céus. (toma um barravento e cai do banco) Eu sei que tem uma parte da história que não contaram, tenho certeza que o meio dos vales já teve um nome tupinambá... "

Segue o link da peça:


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