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  • Marcelo Ricardo, no portal Correio Nagô

Afronte: Thiago Romero propõe encruzilhada teatral para o público conhecer a ancestralidade bicha


Dois caminhos, contemporâneo e ritualístico, interagem gerando dois espetáculos (ou dois percursos) na próxima montagem teatral do diretor Thiago Romero. Em cartaz de 7 à 16 de fevereiro na Casa Rosada, nos Barris, às 19h. O espetáculo Afronte – Akulobee discute raça e gênero.

A dupla proposta de Thiago Romero, indicado ao Prêmio Braskem de Teatro 2019 na categoria especial, versa entre o cotidiano de bichas pretas que vivem num cuierlombo/queerlombo, que expõem debates e provocações dotadas de churrias (comentários ácidos); e, a trajetória lírica das quimbandas, grupo escravizado na região do Congo e Angola entre os séculos XVI e XIX.

“Nesse processo institucional de me formar queria algo tão pertinente quanto o Madame Satã”, conta o diretor. O duplo espetáculo é produto da formatura em direção teatral de Romero. “Conversando com um amigo, o professor Leandro Bulhões, da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele me falou do traço histórico dessas bichas e depois tive contato com o livro do Mott”, ressalta.

A referência para o perfil das quimbandas é traçado a partir dos textos do antropólogo Luiz Mott, em “Escravidão e Homossexualidade”. De acordo as descrições de Mott, os quimbanas foram silenciados pelo tráfico negreiro, pela inquisição e pelo processo higienista da época. Dadas as propostas, o público terá que escolher o percurso que irá escolher. Cada espaço comporta apenas 25 pessoas.

Encruzilhada Teatral

“Minha pesquisa é em gênero, minha tendência é aprofundar, mas, quando se entende como bicha preta, trabalhar um discurso interseccional traz suas especificidades”, afirma o diretor. Romero discute as poucas narrativas de bichas e aponta para uma ancestralidade bicha. “Às vezes, o discurso de empoderamento para os corpos negros e da geração tombamento, não está agregado a uma ideia de memória, de ancestralidade”, reforça.

Contrapondo ao estereótipo de que o teatro negro só pode ser feito de uma forma, em Afronte o dramaturgo Daniel Arcades explica que é necessário responder a uma pergunta: ‘ancestralidade por qual identidade?’. “Um grupo vai caminhar para um local que exige opinião e outro vai caminhar para um lugar que precisa ser amparado, contemplado com a ancestralidade bicha”, descreve..

O deslocamento não propõe uma separação, mas um aprofundamento de um trânsito. A dramaturgia idealizada para a Casa Rosada remete a outros processos criativos já experimentados pela parceria entre Thiago Romero e Daniel Arcades, para o premiado “Rebola” (2017) e o recente “Madame Satã” (2018).

Os atores Anderson Danttas, Diogo Teixeira, Igor Nascimento e Rafael Brito nos abrem as portas do cuierlombo/queerlombo, enquanto Ah Teaodoro, Antônio Marcelo, Diego Alcântara e Ricardo Andrade contam as histórias da quimbandas. Com direção musical de Filipe Mimoso, Joana Boccaneira na preparação vocal, Edeise Gomes, na direção vocal, os figurinos e maquiagem é de Tina Melo. Os ingressos estão à venda pelo Sympla.

Marcelo Ricardo é repórter-estagiário do Correio Nagô.

Com a supervisão da jornalista Donminique Azevedo.

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