"Berram, cidade berra. Ngala bicha, Ngala"
A montagem dirigida por Thiago Romero e dramaturgia de Daniel Arcades traz dois espetáculos/percursos em uma única montagem para discutir gênero e raça.
Com estéticas totalmente diferentes, quem optar pelo percurso interno da Casa Rosada encontrará uma dramaturgia mais opinativa e cotidiana, em que traz as “BIXAS PRETAS” contemporâneas. As personagens contemporâneas têm um perfil mais para o teatro documental, comédia e humor.
Interpretadas pelos atores Anderson Danttas, Diogo Teixeira, Igor Nascimento e Rafael Brito, as personagens moram em uma casa denominada Cuierlombo/Queerlombo. Nesse espaço, contam suas histórias de vida; como se sentem sendo bichas e pretas; provocando debates e questionamentos.
Já o segundo percurso é uma dramaturgia mais lírica, do teatro ritual, poucos diálogos e investimento em poesia. Esta composição cênica que traz os atores Teodoro, Diego Alcântara, Ricardo Andrade e Antônio Marcelo inspira-se nas histórias das Quimbandas, grupos de negros escravizados da região do Congo e Angola, que foram trazidos e existem registros deles entre os séculos XVI e XIX.
Os Quimbandas foram completamente silenciados, ou pelo tráfico negreiro, ou inquisição, ou pelo processo higienista no século XIX. Com duas trajetórias, o público terá que escolher qual o percurso do espetáculo assistirá, sendo que, o limite por espaço é restrito, 25 pessoas por cada espaço.
As duas proposições fazem com que possamos nos ver por caminhos diferentes e que possamos nos responsabilizar e nos enxergar diante da discussão gênero e raça. O intuito de trazer a ancestralidade é, principalmente, por uma questão de referencialidade.
“Estudar a bicha preta nos levar a pensar nisso: Quem veio antes de mim? Quem brigou e lutou para que eu possa chegar neste lugar de discussão? Quem marcou presença na terra e firmou os pés como bicha e preta? É um espetáculo que nos leva a pensar justamente sobre esse apagamento da nossa história”, pontua Arcades.
Afronte fala da interseccionalidade da discussão de gênero e raça. Pouco se fala das narrativas bichas. “Como você opera gênero e raça nessas discussões tão em voga hoje em dia quanto ao racismo e a homofobia? Todo mundo sabe que minha pesquisa é em gênero, minha tendência é o aprofundamento, mas quando se entende como bicha preta e trabalhar esse discurso interseccional você percebe que é um recorte muito específico”, ressalta Romero.
O espetáculo tem direção musical de Filipe Mimoso, direção de movimento de Edeise Gomes, preparação vocal de Joana Boccanera, figurino e maquiagem de Tina Mello.